quinta-feira, 30 de abril de 2015

Raivas (quase) diárias

Não sei se sofrem do mesmo mal que eu, mas fico louca quando estou na fila de um Multibanco e à minha frente alguém saca das suas quinhentas contas do mês para pagar. Resultado: ali estou eu e os restantes a assobiar para o ar e à espera de que aquela pessoa acabe de pagar as continhas todas. Bem sei que há quem não tenha outra forma de o fazer, mas irrita-me que muitas vezes o façam quando há um movimento enorme nas caixas multibanco. E quando vejo gente mais nova a fazê-lo, enlouqueço porque não consigo deixar de pensar que estas pessoas podiam perfeitamente pagar as contas a partir da Caixa Directa e os seus correspondentes noutros bancos.

Mas além deste, tenho outra raivazita: é que os senhores que decidem o que, nas farmácias, tem ou não desconto com a receita médica não devem ter estudado pelos mesmos livros do que eu. É que eu aprendi que a pele é o maior órgão do corpo humano, mas depois tudo o que é para a pele passa por um processo estúpido qualquer em que nada (ou quase) tem desconto. É considerado um luxo e, portanto, raramente tem comparticipação. Mas se eu tiver uma doença de pele, ou uma alergia, ou outra coisa qualquer, tudo o que comprar para tratar é luxo? Posso então adoecer de tudo quanto é órgão que têm pena de mim e comparticipam, mas se adoecer da pele sou uma despesista com a mania dos luxos?! Quem é o ASNO retardado que chega a esta porcaria de conclusão?! É ridículo e doloroso assistir a tamanho disparate. Parece que de tempos a tempos sou castigada por ter isto ou aquilo na pele e precisar de tratar do assunto. Reparem: não compro cremes para olheiras nem para rugas (e mesmo que os comprasse...), apenas compro medicamentos receitados pelo médico de família para tratar de uma alergia. É uma alergia que não tenho porque quero (que não quero, obviamente), mas os cremes para ela passam automaticamente a artigos ligados a luxo. E olhem senhores, com o que eu desconto, bem podia ser luxo que vocês, asnos, deviam comparticipar na mesma.

Sim, estou revoltada.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Era só querer

E  TUDO  ERA  POSSÍVEL 

Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Ruy Belo, Homem de Palavra[s]
Lisboa,
Editorial Presença, 1999 (5.ª ed.)

sábado, 25 de abril de 2015

Um presente pelos quatrocentos anos...

Este ano a segunda parte do Quixote, publicada em 1615, comemora os quatro séculos de existência. Também a editora portuguesa Dom Quixote celebra este ano um aniversário que é muito redondinho: os cinquenta anos. Ora, para comemorar ambas as efemérides, a editora lançou uma nova edição do Quixote a um preço bem catita: dez euros. Pensava que o livro seria uma desgracinha, devido ao preço muito módico para uma obra que atinge normalmente largas centenas de páginas. Todavia, é um volume grande, com uma introdução enorme precisamente sobre os quatrocentos anos de Quixote em Portugal, escrito por Maria Fernanda Abreu. A tradução pertence a Miguel Serras Pereira, já responsável pela que a editora publicou em dois mil e cinco, quando se comemoraram os quatro séculos da edição da primeira parte do texto cervantino. Ontem li uns capítulos para ver se apanhava gralhas que demonstrassem uma edição pouco cuidada, mas não só não encontrei nada como ainda fiquei fã da tradução. Enfim, com um preço destes para um livro como o Quixote não há desculpas para não ler um dos melhores livros de sempre, especialmente no ano em que comemoramos o facto de este texto existir e sobreviver, ano após ano, a leituras e releituras, continuando sempre a fazer sentido e a ser amado.
 
Resta-me acrescentar que este livro foi um presente do moço, a quem muito agradeço. Um Quixote a mais na prateleira nunca destoa, pelo contrário: faz todo o sentido e pede outro, e outro, e outro... Obrigada!
 
A propósito: acabei ontem de ler O Mundo do Fim do Mundo, de Luís Sepúlveda e com ele fica-nos mesmo a vontade de saber mais sobre aqueles lugares onde o mundo parece acabar. É um livro interessante que aborda temas ligados ao ambiente e à enorme destruição pela qual o Homem é, estupidamente, responsável. Mas, enfim, livro terminado é livro começado e o senhor que se segue nas minhas viagens de transporte público para o trabalho é... O Quixote. Precisamente. Chegou a altura de reler as duas partes do meu livro favorito. Está na hora de partilhar tempo com o herói que, com a sua triste figura, chegou onde muitos heróis catitas não conseguiram chegar. Palmilharei, portanto, de hoje em diante, terras manchegas juntamente com o par literário mais famoso de sempre e só não lutarei ao lado de D. Quixote contra os moinhos de vento porque, infelizmente, não tenho os olhos cheios de saborosa ilusão e vejo bem que não são gigantes.
 


 
Nota: Lerei o Quixote, mas não nesta nova edição porque é pesada e não dá jeito nenhum carregá-la diariamente na mala. Regressarei, em princípio, à edição de bolso em dois volumes publicada pela Relógio d'Água com a tradução de José Bento. A outra opção é a versão de Aquilino Ribeiro, publicada pela Bertrand. A decisão final não passa de amanhã!

Liberdades literárias

Numa ida à FNAC devido a uma necessidade profissional, deparo-me com os últimos dias da Festa do Livro e com um vale da dita loja ainda por gastar. E eis que o saco regressa cheio de coisas boas:

 
Aproveito para aplaudir a iniciativa da editora Civilização que publica agora uma colecção de clássicos infanto-juvenis, alguns deles indisponíveis até agora, como é o caso de Anne dos Cabelos Ruivos. Já estive a espreitar a badana do livro e há outros títulos muito promissores. Ficarão para a Feira do Livro, que está quase aí.
 
Ainda uma palavrinha sobre o livro Viagem Pela Literatura Europeia, de António Mega Ferreira. É um livro carito, não vou mentir, mas o suminho que tem é de babar: dez partes sobre dez obras diferentes, todas elas fazendo parte do cânone europeu e merecedoras de toda a atenção que se lhes possa dar. Dom Quixote (claro), Odisseia, Werther, Ilusões Perdidas, O Livro do Desassossego, Em Busca do Tempo Perdido são exemplos dos textos abordados pelo autor nesta viagem por aquilo que de melhor as letras já produziram.
 
Já agora, aproveito para dizer que a adaptação de Os Lusíadas feita por Vasco Graça Moura até a mim, que não aprecio particularmente adaptações de clássicos, me encanta. Para um primeiro contacto com a epopeia camoniana, este é o texto ideal, já que se lhe assemelha na forma. É um trabalho extraordinário feito por um escritor extraordinário.
 
Por fim, importa dizer que a secção de literatura infanto-juvenil da FNAC do Alegro de Alfragide é de babar. Faz ver a outras FNACS maiores. Tem muitas coisas boas, muito variadas e bem arrumadas. Ir lá é uma tentação para o bolso. Felizmente hoje havia vales. Quando acabarem, a ver se evito entrar lá.

Nota: Na loja deixei ficar o novo livro com os discursos de Gabo. Custou-me muito, mas o vale não era elástico. Espero que também esse vazio se resolva com a Feira do Livro de Lisboa. Esse e muitos outros, que a lista aumenta de dia para dia...

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A nossa Biblioteca Nacional

Por incrível que pareça, apesar de ter estudado no ensino superior durante uma imensidão de tempo, nunca tinha ido à Biblioteca Nacional até à semana passada. Já ouvira dizer que aquilo era uma complicação e um dos comentários que fui sempre ouvindo sobre as visitas de outros à BN envolviam a antipatia do pessoal relativamente aos utilizadores da biblioteca.
 
Bom, no meu caso, ou fui bafejada pela sorte naquele dia chuvoso ou então não sei. Lá simpatia não faltou: desde o segurança da entrada até ao funcionário da livraria Babel que funciona dentro do edifício, passando pela senhora do balcão de atendimento que se desfez em mil para descobrir se ainda me seria possível adquirir um catálogo publicado pela BN há uns anos, todos foram muito simpáticos e prestáveis. Na sala de leitura, por exemplo, trouxeram para a minha mesa um livro cuja cota não correspondia à do exemplar que pedira para consultar. Quando dei conta desse facto, explicaram-me que haviam trazido a cota alternativa porque o livro que eu queria estava «interno» (seja lá o que isso for) e, portanto, não podia vir para a sala. Choraminguei que só tinha aquele dia para estar na BN, que tinha feito um esforço enorme para ir lá naquele dia, que precisava MESMO de consultar o livro. Para mal dos meus pecados, além do livro estar interno, já passava da hora de receber pedidos. Ora, um dos senhores do atendimento lá teve pena de mim e deu a ordem de que me fossem buscar o livro. Uns dez minutos depois estava salva: já depois da hora, um livro indisponível apareceu milagrosamente na minha mesa. Ouvi um coro de anjos e tudo.
 
A determinada altura precisei de fazer fotocópias. Lá peguei eu na primeira edição dos Novos Contos da Montanha, do Miguel Torga, e fui até à sala das digitalizações e cópias. A funcionária explicou-me que era mais barato se fosse eu a fazer as cópias e, simpaticamente, foi ensinar-me como a coisa se processava (ensinamento desnecessário uma vez que me 'doutorei' em fotocópias perfeitamente tiradas durante a minha licenciatura e mestrado). Arrepiei-me até à espinha e arredores quando a senhora, para demonstrar-me como funcionava a máquina e como devia posicionar o livro, LAMBEU o dedinho para facilitar a mudança de página. Sim, LAMBEU O DEDINHO para virar a página na PRIMEIRA EDIÇÃO DE UM LIVRO DO MIGUEL TORGA. Senti-me a desfalecer e só conseguia imaginar que se aquilo era feito a um livro de 1944, o que seria feito àquele papel difícil de manusear utilizado em edições do século XVIII ou XIX... O que faria num dos meus velhinhos Quixotes? Tenho a impressão de que morria se visse um dedo lambido num livro meu. Enfim...
 
No final ainda passei pela Babel, onde o funcionário também foi de uma simpatia enorme. Foi graças a ele que consegui um livro de que precisava e outro que queria há milhares de anos. À saída, ainda fui ajudada pelo segurança que, vendo-me com os sacos de papel da livraria, ofereceu-me um saco de plástico para proteger as minhas compras da chuva. Portanto, minha gente, contrariamente a tudo que me foi sendo dito ao longo do tempo, fui muito bem tratada na nossa Biblioteca Nacional. Talvez tenha tido sorte de principiante, não sei. Mas gostava muito que esta fosse a regra e não a excepção.
 
E antes de me pôr a andar porque tenho ali um trabalho que não se escreve sozinho, deixem-me dizer-vos que estar naquela sala de leitura é uma experiência curiosa. É talvez a biblioteca onde vi menos livros, mas só de imaginar o que aqueles corredores devem esconder, apetece-me perder-me naqueles labirintos e espreitar as toneladas de memórias que ali se guardam. É formidável saber que naquela enorme casa de pedra está muito do que foi saindo em livro e em periódico no nosso país. É uma casa de memórias, tal como a Torre do Tombo, e é valiosíssima por isso mesmo. O que somos enquanto povo, mas também um espólio importante de livros únicos (portugueses ou não) está ali. Amanhã celebra-se o Dia Mundial do Livro e por antecipação segue o meu cumprimento à Biblioteca Nacional. Ainda que por vezes possa enlouquecer os seus utilizadores com o processo complicado para se aceder aos livros, a verdade é que zela pelas nossas memórias e esse trabalho não tem preço.

 
Nota: A fotografia da sala de leitura saiu daqui.

sábado, 18 de abril de 2015

Livros sem fronteiras

"Quando [Gastão Cruz] conheceu Ramos Rosa, foi a primeira vez que entrou na casa de alguém e viu torres de livros, uma biblioteca que não estava circunscrita, que era como a própria casa, para ser vivida em todas as divisões, a toda a hora. Era uma biblioteca parecida com a que Gastão Cruz tem hoje, e a uma longa distância da que foi a biblioteca do seu pai, com os clássicos portugueses e alguns poetas algarvios.” (Público, 5 de Abril de 2015)

Quem como eu convive com várias centenas de livros sabe o que é isto da falta de fronteiras, da biblioteca que se vive em todas as divisões, da paisagem de papel que se encontra para onde quer que se olhe. E quem, como eu, já não concebe uma casa que não seja assim, sabe que dificilmente poderá estar, respirar, viver sob um tecto onde não se abriguem personagens, histórias, poemas, peças, mil mundos de papel. Gosto da falta de fronteiras dos meus livros. Gosto de tropeçar num livro novo a qualquer hora, abri-lo e folheá-lo. Gosto muito das possibilidades que me surgem sempre que termino a leitura de um livro, sem ter de contar pelos dedos da mão as hipóteses de textos por ler que me restam rm casa. Gosto bastante da certeza de que mesmo que um dia não possa comprar livros, tê-los-ei agora em número suficiente para ter sempre algo de novo para ler. Por isso não me importo nada que se alastrem pela casa, que fujam das prateleiras para as mesas, das mesas para o chão, do chão para as varandas. Só não gosto que se escondam de mim. Quero-os sempre por perto, compondo uma casa que passa a parecer ela própria uma história feita de livros.

Caminho marítimo para a despensa

Ainda bem que o Sr. Gato tem umas portentosas e fofinhas almofadinhas nas patas. É que se não as tivesse, provavelmente já tinha marcado e gasto o chão no caminho que o leva à despensa. Costumo até dizer que o meu gato descobriu o caminho marítimo para a despensa, de tão certeira que é a rota traçada.

Está bem que me segue para todo o lado, isso já é sabido. Mas nos últimos meses segue-me para todo o lado e faz sempre um desviozinho para a porta da despensa. Depois percebe que afinal não é para lá que vou e segue-me para outras partes da casa, mas nunca se deixa da inclinaçãozinha para a despensa. 

O que acontece é que o espertalhão peludo já percebeu que tudo o que é bom vem da lá. O brinquedo que consiste numa cana com um tufo de penas cor-de-rosa na ponta? Sim, está lá sempre que não estamos em casa (brinquedos que consistem em canas e fios compridos só com os donos por perto, não vá dar-se um acidente). A ração? Está na despensa e de vez em quando é tão abusado que trepa para essa prateleira enquanto encho o medidor. Para meu azar, é nessa prateleira que estão os ovos... O malte para as bolas de pêlo? Despensa. E o que ele gosta de malte! A areia com cheirinho a pó de talco? Na despensa também. O atum? Pois claro que vem de lá. Mas o pior de tudo, pior até que as canas todas e a ração, é o facto de por trás daquela porta estarem as suas ricas, fofas, saborosas e nutritivas saquetas! Isso já é ultrajante! 

Portanto a minha vida e isto: estou a cozinhar e preciso de uma cebola, vou à despensa e, mal abro a porta, o bichano já entrou. Levo a boa da cebola para a cozinha e depois volto à despensa para o tirar de lá (sendo que já são seis quilos peludos). Depois percebo que preciso do arroz. O gatinho dormita na cozinha e penso que desta vez será rápida a minha ida àquela divisão. Qual quê?! O tipo acorda e corre para conseguir entrar lá ainda antes de mim! Levo o arroz para a cozinha e volto lá para o tirar antes que trepe pelas prateleiras. Por vezes quando chego lá, já o amorzinho tem uma pata sobre a caixa dos ovos, qual godzila com almofadas rosadas. Removo o bichano e vou à minha vida até precisar de voltar à despensa e o circo se repetir.

Sacana do bicho é esperto. E lindo. Meu Deus, como este gato é lindo! E amoroso (embora com uns dentinhos que... cruzes!). É um verdadeiro amigão.

Viagens nos meus livros

Isto de andar a ler ao mesmo tempo O Mundo do Fim do Mundo, de Luís Sepúlveda, e o Viver Para Contá-la (que livro fantástico, senhores!!!), de Gabriel García Márquez, está a provocar-me uma daquelas enormes curiosidades sobre a América do Sul. Sem tempo para férias e, principalmente, sem fundos para tal aventura, fico-me pelos livros, enciclopédias e internet, que são e serão as milhas dos pobres sonhadores pobres (repetição propositada) como eu.

Já não era sem tempo

Mais de um ano depois de ter sabido da sua publicação e, portanto, mais de um ano depois de o querer desesperadamente, eis que me chegou às mãos, finalmente, a autobiografia de Joaquim Paço D'Arcos, Memórias da Minha Vida e do Meu Tempo. Veio por um preço catita, que era o que já esperava há algum tempo. É que o livro é caríssimo (mais de quarenta euros) e acaba por afugentar. Consegui-o, finalmente, a um preço mais porreiro. Já não era sem tempo.


quinta-feira, 16 de abril de 2015

A Wook

Não sei quando fiz a minha primeira compra na Wook, mas deve ter sido ali pelos idos de dois mil e onze. Já conhecia a página há algum tempo, mas as compras online ainda me afligiam um bocadinho (mais pelo tempo de espera do que por receio de que corressem mal). Um dia aventurei-me e foi tudo muito fácil: a realização da encomenda, o modo de pagamento, a entrega... E nem tive de esperar muito. Aliás, penso que nunca tive de esperar muito por encomendas da Wook. No máximo em quatro dias os livros chegam-me, a menos que sejam obras que à partida levem mais tempo a serem expedidas, mas somos logo avisados desse tempo de espera no momento da encomenda.

A Wook, além de ser um mundo cheio de livros (o que eu gostava de ver aqueles armazéns!), faz promoções muito vantajosas de tempos a tempos. Muitas vezes aproveito-as e acabo por conseguir livros a preços apelativos, não poucas vezes acompanhados de outras ofertas. Também já me aconteceu conseguir através da Wook livros que não conseguia encontrar noutras livrarias. No fundo, tem corrido sempre tudo bem, tanto que acabei por habituar-me a comprar através desta página, tal como compro presencialmente noutras livrarias.

A Wook tem também um programa para os clientes que fazem compras com regularidade através do site. Chama-se Wook + e, entre outras vantagens, poupa os clientes aos portes de envio (que eram aquilo que também me arrepiava nas compras online). Tenho usufruido desse programa nos últimos seis ou sete meses e também já havia estado incluída nele numa outra altura. Parece-me bem que quem compra muitas vezes, como eu, tenha algum benefício e a poupança dos portes é um incentivo enorme para futuras aquisições.

Ora, hoje lá fui eu aos correios levantar mais uma encomenda. Desta vez trata-se de um livro de viagens do Fernando Dacosta. Pormenor: na compra deste livro de viagens vinha um outro que também já queria há algum tempo. E ainda acrescentaram o último número da revista Happy (pronto, aí podiam trocar por outra revista, mas vá: a cavalo dado não se olha o dente, e além disso tem um artigo sobre o Nicholas Sparks que promete arrancar umas risadinhas). Portanto segue-se uma tarde de leitura, mas tendo em conta o email que recebi ontem com uns livros a três euros, também me parece que vem de lá outra encomenda...




domingo, 12 de abril de 2015

A almofada

Andava a embirrar com a minha almofada. Que estava muito baixinha, que fazia bossas estranhas, que isto, que aquilo, que era altura de substituí-la. E foi: ontem comprei uma nova sob protestos relacionados com preços estupidamente altos para um rectângulo de pano recheado com penas ou algo equivalente. A que comprei dizia que tinha um enchimento feito de fibras vegetais. Por mim, tendo em conta o preço, devia estar recheada de pepitas de ouro. Relativamente ao objectivo (que era o de pôr-me a dormir bem) até podia estar recheada com arroz à valenciana, desde que isso me desse umas boas horas de sono.

Ora, posto isto, o balanço da coisa é este: ao fim de semana acordo, normalmente, antes das oito da manhã (é ridículo, eu sei, mas acordo muito cedo durante a semana e é difícil desligar o chip). Hoje acordei às onze. Mas tu queres ver que a almofada operou um milagre?! Bem, se assim foi, valeu os euros gastos em fibras vegetais que nem sonho o que sejam. Se foi só coincidência, chorarei o meu dinheiro em todas as noites mal dormidas que se avizinhem.

sábado, 11 de abril de 2015

Dois corações

Quem disser que não gosta de receber presentes mente. Sabe muito bem, principalmente quanto vêm por acaso, sem que exista uma data que os justifique. Bem, hoje foi dia de receber uma surpresa. O meu moço lembrou-se de um fio que eu tinha visto na Boutique dos Relógios e de que tinha gostado muito. Então ofereceu-mo hoje. É um Tommy Hilfiger e adoro-o. E, claro, também te adoro, moço, com fio e sem fio, sempre.


Patagónia

Na Patagónia, de Bruce Chatwin; Patagónia Express, de Luís Sepúlveda; O Velho Expresso da Patagónia, de Paul Theroux; Regresso à Patagónia, de Paul Theroux e Bruce Chatwin; Final de Romance na Patagónia, de Mempo Girardinelli; e, por fim, o menos óbvio O Mundo do Fim do Mundo, também de Luis Sepúlveda... Que têm estes livros em comum? Simples: uma região do globo chamada Patagónia e que, pelos vistos, desata a pena aos escritores.

Tenho todos estes livros, mas por agora ( e ao mesmo tempo que me dedico à autobiografia de Gabo) opto por ler o último dos que mencionei, aquele que tem o título menos óbvio, mas no qual um adolescente aventureiro consegue a permissão da família para viajar para sul, para o tal mundo do fim do mundo e, vamos lá, para a Patagónia. Até agora, uns quatro capítulos volvidos, estou a gostar do livro. Pomo-nos nos pés daquele miúdo que escolhe viver uma vida de aventuras "longe do tédio e do enfado" e vamos conhecendo os locais por onde passa e a verdadeira dimensão daquela aventura. Melhor: a ânsia pela viagem nasceu às mãos de um Tio (”assim mesmo, com maiúscula") que lhe apresentou os melhores livros de aventuras e, de entre eles, o grande Moby Dick, cujo capitão Ahab acabou de confirmar o desejo de evasão deste rapazito. E assim lá parte ele, tão para sul que as linhas de caminho de ferro deixam de ser uma possibilidade, tão para longe que precisará de provar que não é um mero adolescente foragido, tão para a aventura que entrará num baleeiro e, tal como Ahab, participará numa caça à baleia.

E, como em todos os livros de viagem, nós permanecemos sentadinhos no sofá enquanto ele sente a brisa marítima e o ondular das águas pelas quais desliza o baleeiro, enquanto ele observa a passagem do barco em que viagem pelo conhecido Estreito de Magalhães, ou enquanto ele distingue na distância as carcaças das baleias abandonadas junto à fábrica onde se trata de aproveitar tudo o que o cetáceo tem para aproveitar. Para mim, que aprendi nos últimos dois anos a gostar muito de livros de viagens, esta é a parte mais apaixonante: provavelmente nunca irei à Patagónia nem ao Estreito de Magalhães, nem a Punta Arenas, ou a Puerto Montt. Provavelmente nunca embarcarei no 'Estrella del Sur' e muito menos num baleeiro que ainda cace activamente grandes baleias, mas consigo imaginar um bocadinho como tudo seria se lá estivesse. É este o grande poder e a grande beleza dos livros de viagens e, no fim de contas, da leitura.


O bebé (peludo) chorão

Algures num dos andares de cima do meu prédio vive um bebé que, como todos os bebés, chora. Pois bem, e que tem isso de suficiente para dar uma quixotada? Aparentemente nada, não fosse o facto de o Sr. Gato ter um ouvido de lince e, seja a que horas for, acordar do seu sono de beleza peluda, pondo-se a choramingar também.

O som que ele faz nessas alturas é ali qualquer coisa entre o miado e a rosnadela. Também costuma fazê-lo quando acorda e eu ainda estou a dormir, não podendo, assim, dar-lhe logo comida. É, portanto, uma espécie de despertador que pulula da cama perto da hora de eu acordar e que massacra até que desistamos e lhe demos comida e brincadeira.

Mas esta semana apercebi-me de que o fazia também a meio da noite. Numa destas madrugadas, acordou às quatro e meia da manhã com a mesma conversa. Só depois consegui aperceber-me de que lá em cima o bebé chorava (e o som mal chega cá abaixo). Hoje voltou a acordar muito cedo e, pelo meio da sua choraminguice pedinchona, ouvi o bebé chorar também. Portanto agora tenho um gato que vai fazer ano e meio e que se julga no direito de agir como um bebé, acordando a dona com miadelas e rosnadelas para que lhe seja servida uma raçãozita nocturna e, de preferência, acompanhada de brincadeira. 

Vou tentanto ignorá-lo quando começa nestas vidas porque se não o fizer passo a não dormir noite nenhuma, mas às vezes é difícil. Definitivamente tenho de arranjar uma companhia a este gato para ver se passa a ser menos mimadinho e a perceber que é um gato e não um bebé chorão. 

Mas um gato fofinho e que só apetece engolir de bonito que é, atenção.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Leite de ouro

Há algum tempo, comecei a perceber que quando bebia leite não me sentia bem. Bebia uma caneca e parecia que tinha comido um porco no espeto. Inteirinho. Ficava assim durante várias horas, o que não me parecia normal. Um dia comentei isto com alguém que me disse que, se calhar, estava a ficar intolerante à lactose e, assim, o melhor a fazer seria beber leite sem lactose. Resolvi tentar. 

Bom, de facto o leite sem lactose eliminou estes sintomas, mas também eliminou muito dinheiro da minha carteira. Posso dizer-vos que um pacote chega a custar três vezes mais do que um dos normais. É doloroso. Hoje, fui às compras com o moço e comprei duas embalagens de leite: uma do normal, para ele, e uma de leite sem lactose, para mim. A diferença de preços em seis pacotes de cada tipo é de mais de cinco euros. A embalagem de leite normal não chega aos quatro euros e a de leite sem lactose roça os nove. Até se me revolve o estômago. Mas, enfim, o que tem de ser tem muita força e, embora ache obsceno o preço deste leite, lá o vou trazendo. Contudo, chegará o dia em que desistirei do leite e me dedicarei ao chá. Sai mais barato e não tem lactose.

sábado, 4 de abril de 2015

Viver para contá-la


"A vida não é a que cada um viveu, mas a que recorda e como a recorda para contá-la."
Epígrafe de Viver para Contá-la

Comecei hoje a ler a autobiografia de García Márquez e, minha gente, o livro é boooooooooooom! De um fôlego foram logo cem páginas e em muitos dos episódios que conta encontramos as bases sobre as quais assentam várias das histórias de Cem Anos de Solidão. É incrível porque são histórias de família que parecem saídas de um romance, mas parece que na realidade foi ao contrário: aquela vida tão cheia de momentos únicos virou livro e encheu cem anos num romance que é provavelmente um dos melhores de sempre. 

Lê-se como um romance e como um exercício literário: quanto do que viveu Gabo é vivido pelas personagens fantásticas de Cem Anos de Solidão? Vamos lendo e estabelecendo pontos de contacto. Além disso, é extraordinária a forma como o autor foi vendo os locais da sua infância através da lente da nostalgia que o tempo faz crescer, compreendendo a verdadeira dimensão de cada história ouvida, vivida e sentida e a sua força poética.